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Mostrando postagens de fevereiro, 2013

O BARQUEIRO - ANDERSON LOBO

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o barqueiro cruza, paciente, o rio ligando margens e pessoas. e são turvas as águas, pelas quais navega! estirpe dos iluminados, venceu a solidão. aprendendo com o rio. o nobre, e difícil, ofício de amar. o barqueiro rompeu com o eterno, quebrou o ciclo, rumo à plenitude. quando sorri, é indício de absoluta paz. santo, comunga com o todo. mansa, sua embarcação, tal qual sua alma. pois, lição, leva o rio dentro de si. além, o barqueiro é o rio, cujas águas são a própria vida . visite o blog de poesias de Andersons Lobo através de:  http://poetaandersonlobo.blogspot.com.br/2011/05/artesanato-de-ze-do-balaio-almenara.html

JOSÉ- CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

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E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? e agora, Você? Você que é sem nome, que zomba dos outros, Você que faz versos, que ama, protesta?  e agora, José? Está sem mulher , está sem discurso, está sem carinho, já não pode beber, já não pode fumar, cuspir já não pode, a noite esfriou, o dia não veio, o bonde não veio, o riso não veio, não veio a utopia e tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou, e agora, José? E agora, José? sua doce palavra, seu instante de febre, sua gula e jejum,  sua biblioteca, sua lavra de ouro, seu terno de vidro, sua incoerência,  seu ódio, - e agora? Com a chave na mão  quer abrir a porta, não existe porta; quer morrer no mar, mas o mar secou; quer ir para Minas, Minas não há mais.  José, e agora? Se você gritasse, se você gemesse, se você tocasse, a valsa vienense, se você dormisse, se você cansasse, se você morresse... Mas você não morre, você é duro, José

TERNURA - VINICIUS DE MORAIS

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Eu te peço perdão por te amar de repente Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos Das horas que passei à sombra dos teus gestos Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos Das noites que vivi acalentando Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente. E posso te dizer que o grande afeto que te deixo Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas Nem as misteriosas palavras dos véus da alma... É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias E só te pede que te repouses quieta, muito quieta E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar estático da aurora. QUADRO: O BEIJO DE HENRI TOULOUSE LAUTREC.
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O tempo passa cada vez mais depressa Liquidando as memórias de um tesouro secreto A vida vai fazendo sua parte Deixando os rastros e apagando pegadas Parece que tudo vai de repente evaporar E tudo o que é sagrado vai simplesmente desmoronar Pois para tudo que é vivo um dia é chegada a morte Entregando os nossos destinos a mercê da sorte Sem certezas, sem tempo Sem nada a decidir E apesar de tudo De toda a estranheza do universo Eu ainda sinto você Sinto como se ainda segurasse as minhas mãos Sinto como se seu cheiro dissipasse no ar Eu sinto e não consigo parar de sentir Somente Deus sabe o quanto eu tentei resistir Mas eu ainda a vejo Sem filmes, sem fotos Apenas em ecos que vibram em minha mente Basta fechar os olhos Basta ficar bem quieto Para através dos seus Eu enxergar o mundo inteiro Para andar sobre um mar desconhecido E com meus dedos tocar no infinito Como um sinal de um milagre Como a voz de uma prece Que gira em