A CAIXA DE PANDORA - JAIME PINSKY/ HECTOR BRUIT


"...Desde O século XIX o tema principal da política de oposição no Brasil tem sido denunciar um contraste entre teoria e a prática, e a tarefa principal das oposições tem sido a democratização desses direitos. Que essas ideias continuem a ser revolucionárias quase duzentos anos da Revolução Francesa é uma demonstração evidente de que o ideal esteve sempre muito longe do real. Para milhões de brasileiros muitos desses direitos passaram de ficção jurídica.
Que sentido tem o direito à propriedade para que não é nem jamais será proprietário ou o direito de representação para quem é privado do direito de voto por ser analfabeto? Que sentido tem o direito a reunião para o trabalhador do campo ou da cidade que vê seus sindicatos ocupados ou fechados, seus lideres afastados ou presos? Que significado tem a inviolabilidade do lar para aqueles que têm suas casas invadidas pela polícia e membros de suas famílias presos sem ordem judicial ou processo? Que significado tem o direito de livre expressão para quem não dispõe de meios para se expressar? Que significado tem esse direito para quem nasceu e cresceu sob a censura? Que significado tem a separação de poderes para os que foram julgados por tribunais criados por ordem do Executivo, especialmente com o propósito de condená-los, para aqueles que foram presos sem ter cometido crimes ou mantidos em prisões sem ser julgados? Que significado tem a separação os poderes para os que viram o Executivo intervir no Legislativo, suspendendo, cassando, conferindo ou negando o direito de representação a seu bel-prazer, reformulando as regras do jogo a cada passo?


Jaime Pinsky, Hector Bruit.  O capitalismo nas Américas. Trecho do texto A Caixa de Pandora;

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